15 de set. de 2015

Às Seis da Tarde

Às seis da tarde,
Tem luz acesa pela casa,
Tem portão esquecido aberto,
Tem música alta pra todo mundo ouvir,
Tem neto pulando no sofá,
Tem vô tentando o jornal assistir,
Tem mãe da cozinha a gritar:
- A comida está na mesa. Vem logo porque vai esfriar,
Tem filho respondendo:
- Calma que já vou. Estou quase acabando de me arrumar,
Tem a mãe de novo, agora a suspirar:
- É só comer. Eu que tive todo o trabalho de preparar,
E tem vizinha na porta chamando:
- Dá licença que estou entrando,
Tem um pouco de farinha pra emprestar?

10 de set. de 2015

Ela



Ela está pronta:
Atomos, células, tecidos,
Músculos, órgãos,
Razão, espírito.


Ela, imagem de mim,
Em muitos aspectos igual aos demais será,
Mas em todos os outros sentidos,
Simplesmente ela, singular.


Sorrirá quando quiser chorar,
Só chorará depois de muito esforço para evitar,
Terá fé nas pessoas e quão facilmente se decepcionará.


Olhos brilharão quando animada,
Preferirá o silêncio quando cansada,
Falará rápido ao se sentir desafiada.


Desejará conhecer o mundo
(o que está lá longe, o que tem dentro de si),
Encontrar o que procura, ter alguém ao lado enquanto busca.


Terá medo de perder quem ama,
De não viver o que sonha,
De não ter os dias com os quais conta.


Quantos medos!
Mas não importa quão grande seja,
Sempre em nossos braços se aconchegará.


Se alegrará no almoço em família,
Na bagunça com sobrinhos, em estar entre amigos,  
E em estar só, apenas com os pensamentos, com uma música, com um livro.


Definitivamente, não se acostumará com despedidas, com partidas,  
Com o tempo que não pode voltar atrás, com o amigo que não pode voltar,
Com aquilo que passou, com a dor que ficou.


Terá dúvidas nas pequenas decisões do dia a dia,
Nas encruzilhadas,
Nos grandes passos da vida.

Quanta angustia!
Mas tenhamos calma,
Nosso conselho buscará.


Procurará respostas,
Qual é a sua peça nesse quebra-cabeça (ainda desmontado, um pouco bagunçado),
Se essa história há tanto tempo escrita, enfim, fará sentido.


Talvez seja por isso tanta ansiedade,
Pela continuação do filme, pelo final do livro (ainda na metade),
Pelo amanhã (mas por que, se o hoje é a prioridade?).

Quantos erros cometerá! Contra quem ama,
Contra o que acredita, contra o que valoriza,
Contra si (mas como se perdoar?).

Ela será tanta coisa
(ao mesmo tempo, em tempo diferente),
E haverá horas
Que achará que não é suficiente.

E ela será livre!
E em sua liberdade, posso ver,
Escolherá em nossa companhia estar,
E no fim, que prazer, para nós voltará.

1 de set. de 2015

Entre tantos


Não é só mais um entre tantos
Mesmo quando
Não importa quantos
Dizem que assim é.

É outro,
Mesmo entre todos,

E apesar de tantos
Não saberem que ele é.

6 de ago. de 2015

Pai, será que você se lembra?



Pai, será que você se lembra?

Porque eu sim.

Lembro a primeira vez que você ouviu sobre minha existência. Você se sentiu confuso, com medo, e um pouco apavorado. Mas também sentiu alegria. E sentiu um pouquinho do amor que logo viraria um montão.

Eu também me lembro quando você me viu pela primeira vez. Era só uma imagem escura. Mas você ficou lá, revirando a imagem, tentando me encontrar e suspirando aliviado ao reconhecer minhas mãozinhas.

E então, nos conhecemos. Você estava com os olhos molhados. E sorria. E olhou para aquela guerreira, que desde sempre foi tudo pra mim, com tanto amor e devoção, que eu soube que poderia confiar em você. 

Confesso que naqueles primeiros dias e semanas, eu não me importava muito com você. Mas logo comecei a procurar, de olhos arregalados, por aquele que tinha um sorriso bobo. E que tinha um colo desajeitado, mas sempre quente e protetor.

E com o tempo fui entendendo o seu papel na minha história. 

Talvez o primeiro tenha sido o papel de anjo. Você me observando enquanto eu dormia. Você me ninando, cantando baixinho para eu me acalmar. Você sempre por perto, mesmo quando não sabia muito bem o que fazer comigo. Eu me lembro, sabia?

Também me lembro das brincadeiras no chão. E das brincadeiras no ar, mãezinha sempre dizendo: cuidado. 

Lembro da cabana improvisada com lençol, do banho de mangueira no quintal, de brincar de dirigir seu carro, de fazer muito barulho, mesmo quando estava na hora de fazer silêncio. Você sendo rei, sendo cavalheiro, sendo palhaço, sendo dragão, sendo urso. Sendo meu amigo.

Lembro das histórias antes de dormir. As de fadas, de bicho falante, de festa no céu.  E as de bruxas e bicho papão, mas essas baixinho, sem mãezinha ouvir. 

Lembro quando você me levava até o bar da esquina e comprava uma tubaína para dividirmos. E eu tentando me equilibrar no balcão. E também lembro de você me levando até o parquinho e me trazendo de volta para casa, às vezes de joelhos ralados, mas sempre feliz.

Lembro quando você amarrava meus calçados. E quando abria o refrigerante. E quando no calor, sentados na escada, descascava cana para mim. E também quando descascava laranja, me dando a partezinha de cima, a minha preferida.

Lembro de você me dando pastel antes do almoço e sorvete quando o tempo estava frio. Talvez tenha sido assim que descobri seu papel de cúmplice e de que a vida não precisa ser levada tão a sério.

Lembro da sua impaciência com minhas birras, e da sua paciência quando a birra era com mãe. 

Lembro das broncas, terríveis e duras. E lembro do coração mole, que se derretia quando eu corria para um abraço, com um pedido de desculpa ou apenas cara de choro.

Lembro de como foi divertido convencer mãezinha que dávamos conta de um cachorro. E de você me levando eufórica pelas mãos, e depois, me deixando livre pra escolher meu novo amiguinho.

E sabe esta cena? Você me levando pelas mãos e no momento certo me deixando seguir e decidir 
meu caminho? Ah, quantas vezes ela se repetiu! 

Lembro também das mãos segurando levemente a bicicleta, mesmo quando eu dizia que estava com medo. E das mãos firmes me segurando ao entrar no mar, mesmo quando eu dizia que era seguro.

Lembro da ajuda em matemática e você indo consultar, meio sem graça, qual a capital de algum estado. Lembro de você me explicando (ou inventando) porque o céu é azul, porque eu não podia alcançar as estrelas, porque eu precisava dizer adeus a vózinha.

E mais tarde (como o tempo passa rápido!), você me explicando sobre relacionamentos, sobre política, sobre a vida, sobre o trabalho, sobre a fé.

Sempre exercendo tão bem esse papel de professor, misturado ao de conselheiro. Alguém que sabe das coisas, mas que sente prazer em ver eu descobrindo por mim mesma.

Ah, paizinho, de quanta coisa eu me lembro!

Lembro do seu orgulho com minhas conquistas. Da sua preocupação com minhas tristezas. Da sua compreensão com minhas escolhas. Da sua angústia com meus erros. 

Lembro do seu incentivo e apoio. Da sua alegria, pura e simples. Do seu humor. E do seu amor, tão grande. 

E continuarei lembrando. 

E quando você não mais lembrar, não se preocupe. Bem pertinho dos seus ouvidos e segurando suas mãos, contarei a você minhas lembranças. E de como sou grata a Deus por você exercer o papel que mais preciso: a de meu pai.


Ps.: Muitas das lembranças aqui compartilhadas são reais, são minhas. Meu paizinho, de fato, preencheu a minha infância de bons momentos, e hoje, eu já adulta, continua sendo assim. Ele continua preenchendo minha vida de ensino, de exemplo, de cuidado, de amor. Eu só tenho a agradecer ao Pai Eterno pelo pai daqui <3


20 de jul. de 2015

Aos Amigos


Aos amigos
de longa data e novos;
que estão perto, mesmo quando longe;
que compartilham sonhos e realizações;
que choram juntos, oferecendo abraço e colo;
que se importam, se preocupam, se dispõem.

Aos amigos que riem se eu tropeço;
que me corrigem quando erro;
que esperam comigo o ônibus, mesmo quando digo que tudo bem eu ficar sozinha;
que me acompanham até em casa, até o próxima loja, até ali.

Que comem a batata do meu lanche do Mc, pois sabem que nunca dou conta de tudo;
que falam pra eu tomar água, fazer exercícios e comer mais;
que me pedem conselhos, mesmo quando não tem intenção de segui-los;
que conhecem meus gostos e indicam livros, filmes e músicas;
que não se intimidam em me indicar filmes, livros e músicas bem diferentes do meu gosto, e com isso, me surpreende.

Que me enviam textos pra eu dar uma olhada rapidinha se está ok a gramática;
que leem, palpitam e divulgam meus textos;
que esperam estar no "Agradecimentos" ou ser um personagem de algum futuro livro.

Que amam e respeitam meus pais;
que perguntam dos meus sobrinhos;
que me dizem palavras de animo e de carinho em dias que preciso muito ouvir.

Que procuram devolver meus livros em ótimo estado;
que suportam minhas manias e chatices, não sem antes tentar muda-las;
que retornam minhas ligações.

Que me escrevem cartões no meu aniversário, natal e ano novo;
que me trazem chocolate, principalmente nos dias muito nervosos;
que sabem quando estou brava de verdade ou apenas com sono.

Aos amigos
que desejam o meu bem e me fazem bem;
que entrelaçam sua vida à minha;
que estão junto.

Minha oração hoje e sempre por vocês é simples, é tudo!
Que Deus, o Maior Amigo, os abençoe!

8 de mai. de 2015

Mãe



É quem carrega um dom (recebido dos céus)
Quem dá seu colo (mesmo quando o filho cresce)
Quem carrega outra vida no coração (em todo o tempo)

É quem segura firme as pequenas mãos
Quem aguenta firme quando é preciso dizer não

É quem acalenta na hora do choro
Quem se diverte junto e ri até perder o fôlego

É quem tem uma vontade imensa de pintar um mundo mais colorido 
Quem tem o sonho de derrubar todos os muros (de separação, de preconceito)

É quem inventa mil histórias, ou apenas, reconta a preferida pela milésima vez
Quem passa a noite vigiando a febre, ou apenas, apreciando a tranquilidade do sono

É quem leva para molhar os pés no mar, e se pudesse, levaria também para pular nas nuvens 
Quem afasta os pesadelos, e se pudesse, afastaria todos os medos

É quem cuida das feridas, sem a pretensão de cicatrizá-las
Quem ouve as dúvidas, sem a pretensão de decidir o caminho

É quem quer livrar das dores, mas sabe permitir os tombos necessários
Quem quer estar junto, mas sabe o tempo de deixar partir

É quem cobre de beijos, cafunés, cuidados e conselhos
É quem requer juízo, verdade e respeito

É quem entende as coisas do mundo (de tudo um pouco) 
Quem sabe tudo sobre o mundo do filho (mesmo quando está escondido)

É quem briga, defende
Quem se emociona, se alegra, agradece

É quem dá bronca com razão
Quem dá abraço sem motivo
Quem dá de si, todinha, sem nada pedir em troca

É quem disfarça o cansaço, a dor, as preocupações
Quem chora baixinho, na escuridão, antes de dormir
Quem renova as forças, toda manhã (como será possível?)

É quem teme o futuro, mas não perde a esperança
Quem se decepciona, mas não recusa o perdão
Quem corrige, mesmo com o coração sangrando

É ação, reação
Razão, emoção
Uma coisa de cada vez
E às vezes, todas juntas

E mesmo quando não for, é tudo.
A base, o norte, o abrigo

Mãe
Quem ama.
Com cuidado terno.
Com amor eterno.

27 de abr. de 2015

A decisão que vem do coração


Às vezes precisamos dizer não a uma aparente oportunidade.
Não por medo.
Ou por comodismo.
Dizer não também faz parte da estratégia. Faz parte do caminho que seguimos.
Significa que estamos com os olhos no alvo, lá na frente.
Com a certeza de que quando chegar a oportunidade (aquela real, que aguardamos) poderemos dizer sim de olhos fechados. E com o coração escancarado!

13 de fev. de 2015

A carta que não terminei



Essa é mais uma daquelas cartas que não consegui terminar.
Confesso que tentei. 
E por muitas vezes.
Mas as palavras, 
Atrapalhadas, 
Bagunçadas,
Insistiram em não achar o seu devido lugar. 

Essa começou a ser escrita lá atrás.
Primeiro no coração, depois com as mãos.
Mas com o tempo (ah, esse vilão do tempo),
Com as circunstâncias (ah, como estamos vulneráveis),
Já não faz tanto sentido terminá-la.

E aqui está. 
Inacabada.
Um rascunho difícil de ler.
Uma confusão de sentimentos.
Expostos.
Depois apagados.
Quem poderia entender?

É só um emaranhado de pensamentos 
Que vieram e se foram,
Correndo, atropelando, mudando.
Passado, presente (e até o futuro inexistente)
Tudo se misturando.
O que é real, o que foi só sonho 
Tudo se entrelaçando.

E aqui está.
Um papel leve.
Poderia soltá-lo ao vento, se assim quisesse.
Um papel pesado.
Poderia afundar a alma, se assim deixasse.

Essa é só mais uma daquelas cartas sem final.
Quem sabe um dia eu consiga terminá-la.
Mas se isso acontecer, será que ao seu destino chegará?
Ou será só mais uma outra carta fechada, que por aqui ficará?

4 de fev. de 2015

Quer uma beijoca?



Vi essa tirinha do Bichinhos de Jardim e pensei no meu sobrinho Nicholas, de 2 anos. Ele adora beijar! Ele beija quem é da família (principalmente o primo Biel), os amiguinhos (mesmo que tenha acabado de conhecer), seus brinquedos e se deixar, beija até o cachorro.

Deve ser típico de criança da idade dele, mas como eu acho lindo vê-lo se levantando nas pontinhas do pé para beijar seja lá quem for!

Essa tirinha também me fez pensar no outo lado. Em quantas pessoas estão com uma vontade imensa de receber ou dar um carinho, mas que se contém. Não sei se é porque são tímidas ou porque se acham fortes.

Mas a questão é que todo mundo precisa de um afago, uma palavra amiga, um abraço, um olhar gentil, um “bom dia”.

Não tem graça nenhuma estarmos no meio de muita gente, e ainda assim, se sentir invisível. Estar numa roda animada de conversa, mas tristes porque ninguém nos olha nos olhos.

Assumir nossa carência e que precisamos do outro, não é nenhum problema. Afinal, fomos feitos para estarmos juntos e como diz o poeta-músico “É impossível ser feliz sozinho” (Tom Jobim).

Então, o convite de hoje é para que você saia por aí dando beijocas em quem você quer bem.

E naqueles dias em que se sentir tão só, não tenha receio de assumir sua carência. Sem vergonha alguma, peça colo e cafuné. Certeza que haverá pessoas por perto que te acolherão com muito carinho.

*Texto meu originalmente publicado em Mais Viver Unimed Paulistana, em 4/set/2013

19 de jan. de 2015

Pode ser ... se assim escolher



Pode ser que hoje seja um dia de frio e tempestade lá fora.
Mas ainda assim, poderá ser um dia ensolarado dentro de você.

Um dia em que, talvez, precise caminhar sobre pedras.
Mas ainda assim, poderá contemplar as flores na beira da estrada
(quem sabe, até possa colhê-las!)

Talvez hoje seja um dia de angústia pelo incerto.
Mas se acalmar o coração, poderá ser um dia de expectativa pela possibilidade.

Talvez hoje seja mais um dia de amargura.
Mas também pode ser o primeiro dia de perdão e recomeço.

Como será o seu hoje?
Um dia comum?E quem disse que o dia comum não é um dia especial?

Hoje pode ser o melhor dia da sua vida.
E amanhã também.
E depois.
E depois.
E depois...

Se assim escolher!

7 de jan. de 2015

Equilíbrio


O exagero não me atrai.
O equilíbrio sim.
Pois tal como uma balança, assim é a vida.
Se pende para um lado, algum outro lado perde.
Por isso, busco viver tudo na medida certa.
Nem mais, nem menos!



*Post inspirado nesse outro texto meu: Em busca de equilíbrio